Lembro-me do dia em que fui com o Sérgio buscar a tia Maria ao aeroporto e nos deparámos com uma velhota baixinha atrafulhada em malas e roupa. Encontrei-a exactamente como a lembrava e perguntei-me como é que os anos parecem não passar por ela. Era um daqueles dias de calor do início de junho e lá estava ela, toda encasacada e sorridente, completamente derreada da viagem e a queixar-se da lonjura dos corredores do aeroporto de Lyon. A tia Maria veio de França de avião, no auge dos seus 85 anos, para passar os três meses do verão connosco. A aventura dela estava a começar, entregue a uma família onde somos muitos, muito malucos e ela já nada habituada a grandes confusões. As semanas voaram e no meio do tempo a passar muitos foram os dias em que esteve connosco, outros em que foi passar o dia com as outras sobrinhas e a irmã, ou as amigas. A tia Maria não parou nestes três meses de verão e facilmente nos esquecemos que por detrás de tanta genica estão escondidos tantos anos de vida. Contudo, o verão passou e hoje o dia acordou chuvoso. Curiosamente as primeiras águas anunciaram o fim da estadia da tia Maria e hoje fiz novamente o caminho até ao aeroporto, desta vez com o coração apertado e a sensação de que o nosso tempo se esgotou. Nunca hei-de habituar-me a esta certeza de que tenho que deixar partir aqueles que amo. Hoje choveu lá fora e choveu, ainda chove, dentro de todos nós. 

2 comentários

  1. curiosamente, as minhas primas também têm um a"Tia Maria". É a minha mãe, só que já não faz viagens dessas, tão longas.
    Boa semana, Vânia.

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