Decidi secretamente, e de rompante, que não passava deste ano: ia começar a procurar casa própria, dar o salto e sair de casa dos pais. Entre o ter este desejo profundo, assumi-lo perante mim mesma e os outros e torná-lo realidade, passaram-se meses. Houve alturas no início em que quase desisti, porque tudo parecia demasiado improvável, difícil ou desencorajante, mas as noites de sono profundo traziam dias de novas possibilidades. Tranquilizei-me a cada chelique (quase) diário e não parei de procurar, de falar com pessoas, de tentar perceber por onde deveria começar. No meio das indecisões iniciais nem me apercebi que no fundo já tinha arrancado com o processo e que ele era mesmo assim, um turbilhão de possibilidades e de indecisões. Estavam a acontecer os primeiros passos para fora do ninho, eu estava mesmo a procurar uma casa para viver.


Quando se procura, encontra-se!


Por vezes ficamos parados à espera que algo aconteça na nossa vida, e com esta questão da casa percebi que quando se começa a procurar e a sondar as possibilidades, algo se desbloqueia, e de repente tudo começa a conspirar a nosso favor. Senti que nada é especialmente fácil neste processo, mas iniciá-lo desencadeou, no meu caso, uma série de outros acontecimentos que vieram facilitar-me ou dificultar-me a vida, mas que se verificaram essenciais para avançar. Se queremos, temos mesmo que fazer acontecer.


Comprar ou alugar?


Uma das primeiras questões preponderantes que tive, foi se deveria comprar ou alugar. Mais do que isso, foi perceber o que estaria implicado se tomasse a decisão de comprar (pois requer outro tipo de compromisso) e quais as condições que deveria ter. Tudo isto implicou pesquisar sobre o assunto, e li sobre empréstimos, taxas de juros fixas ou variáveis, familiarizei-me com termos como taxa de esforço, Euribor, TAEG, etc, etc, falei com amigos, com a família, com o gestor de clientes do meu banco, e estipulei um patamar orçamental para aquilo que eu podia e estava disposta a gastar com a brincadeira. No fundo teci cenários diferentes, e a par disso fui mobilizando os agentes imobiliários para procurarem uma casa para mim, paralelamente às minhas próprias pesquisas (isto porque rapidamente percebi que construir ou recuperar eram caminhos por onde não me queria meter). Tudo isso permitiu-me conhecer as possibilidades e amadurecer as ideias. Uma vez que tomei a decisão sobre este tópico, tudo se desenrolou muito mais depressa.


Rural ou urbano?


Sempre vivi em casas de campo, o que me clareou as ideias sobre este assunto: eu queria mudar-me para um apartamento. Porquê? Porque dá menos trabalho e tem menos custos fixos de manutenção. Numa casa de campo temos que investir numa rua cimentada, ou vamos ter lama até à porta de casa. A menos que se trate de uma casa com boa suficiência energética (e essas, são demasiado caras), vamos ter o dobro dos custos de aquecimento no inverno. Acresce ainda que além de limpar o interior da casa, teremos que preocupar-nos com a limpeza e manutenção do exterior. As vivendas/moradias ou casas de campo são giras para respirar, mas eu quero, sinceramente, chegar a casa, fechar a porta e preocupar-me apenas com as flores da varanda. Se quiser o contrário, posso sempre ir passar bons bocados na casa dos pais e dos avós. Ainda assim, andei a ver casas de campo, apenas para ter a certeza que não queria ir por aí. Podia ser que encontrasse uma que me cativasse, que não fosse gigante, que tivesse um pequeno jardim e pouco mais, e que custasse algo dentro do meu orçamento. Não aconteceu, e houve um sábado de manhã em que eu e o Sérgio, acompanhados de um agente imobiliário, subimos até um terceiro andar sem elevador e ao entrar e abrir as persianas, ficámos em silêncio.    



Acho que encontrei a minha casa, 
mas não é tudo o que eu tinha planeado!


Era um terceiro andar mobilado e sem elevador, e eu tinha dito que não ia viver num prédio sem elevador. Lembro-me igualmente de ter afirmado tacitamente, por várias vezes, que não queria mudar-me para um apartamento mobilado. No entanto, ali estava eu a ponderar a hipótese de dar a procura por encerrada. É que era um terceiro andar sem vizinhos por cima e sem prédios à frente, virado a nascente e a poente. Um terceiro andar de luz, com uma marquise para as minhas orquídeas e espaço para uma mini lavandaria. Era um T3 em que dois dos quartos não tinham roupeiro e podia transformá-los no que eu quisesse. Contudo, tinha duas casas de banho de loiças cremes que eu detestava. Mas era um terceiro andar na avenida principal (a única, no caso da minha vila), com uma varanda com um canteiro embutido para as minhas aromáticas. Tinha mobílias compradas no IKEA, de cores claras e traços minimalistas, que eu poderia bem ter escolhido. No fundo, aquele pequeno apartamento composto pelo essencial para nós dois era tudo o que eu mais e menos queria. 


Vou concentrar-me não no que é, mas no que pode vir a ser.


A decisão foi tomada quando deixei de me focar no que menos gostava na casa e passei a focar-me nas suas potencialidades, e a destacar-lhe aspetos positivos. A questão da localização e da luz natural foram preponderantes, além do valor que se encaixava no orçamento disponível. Não estava desesperada porque só tinha começado a procurar há dois ou três meses, mas senti-me bem perante aquela lareira acolhedora ao canto, e as possibilidades que percebi que o apartamento poderia ter. Senti, e o Sérgio também, que podia ser aquele o nosso lugar. Concentrei-me em detalhes como o facto de não precisar de grandes arranjos, de não ter humidades, de ter instalação de ar condicionado em todas as divisões, e do chão ser claro e todo igual, ou da cozinha ter azulejos claros e armários brancos. Percebi que podia fazer um ajustes aqui e ali, mas encarei aquele t3 como algo cuja ideia é ir melhorando quando possível. É um espaço que apazigua e acolhe, para já, e não há nada melhor do que isso.

No fundo acredito mesmo na ideia de que uma casa é algo que se constrói, que se adapta e melhora. Vejo-a mesmo como um projeto em construção. Por outro lado, também a encaro como algo que pode bem ser transitório, não tem que ser para sempre, tem sim que servir as necessidades do momento presente. Esta basta-nos, para já. Acho que quando partimos desses dois princípios, firmar a nossa escolha tona-se muito mais fácil.

E vocês, já deram, ou pensam dar esse passo? Partilham, ou não destas ideias?

2 comentários

  1. Já dei esse passo há pouco mais de um ano. A escolha entre arrendar e comprar para mim era óbvia: não quero comprar casa, nem faz sentido para aquilo que eu quero da vida, mas é uma escolha muito pessoal. Sei que em Lisboa (onde vivo) por vezes é muito mais barato aquilo que se fica a pagar ao banco do que o preço de algumas rendas...

    Fico contente que tenhas encontrado um espaço onde te sentes bem. E claro, torná-lo mais teu, mais vosso. Sabendo que se não estiverem satisfeitos, podem sempre mudar. Boa sorte para essa nova etapa! Eu cá sei que foi uma das melhores decisões que tomei :-)

    Mundo Indefinido

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